Já é premente responder à afirmação da manchete desta reportagem, que foi, vale dizer, uma provocação para refletirmos no que toca a uma curiosidade que será, quiçá, o mote deste texto. Da Proclamação da República para cá, tivemos apenas um presidente da República médico, a saber, o mineiro de Diamantina Juscelino Kubitschek. Ronaldo Caiado, governador de Goiás, seria, claro, o segundo médico presidente, se eleito for. Mas para trazer luz à manchete supracitada é preciso dizer que Caiado seria, sim, o primeiro presidente médico a partir da então chamada redemocratização brasileira, em 1989, que, aliás, foi um pleito em que houve a participação de Caiado, com seus 40 anos de idade. Ou seja, de lá para cá nenhum médico foi eleito para o cargo. Agora sim! Ora essa, é claro que é um fato curioso que num universo de 39 presidentes, apenas um médico tenha sido eleito, já que este profissional, vá lá, tem histórica relação com a política brasileira, assim como os advogados.
Outras curiosidades dessas duas personalidades políticas brasileiras: Caiado e JK, como médicos, fizeram especializações na França, aquele, em 1977, especializou-se em cirurgia da coluna; este, em 1930, em urologia. Ah, vai mais uma curiosidade aí: ambos foram senadores por Goiás. JK foi eleito em 1961; Caiado, em 2014. Mais uma curiosidade e vamos aos especialistas, prometo: ambos nasceram no mês de setembro, JK no dia 12; Caiado no dia 25.
A reportagem do Cerrado Notícias, curiosa para saber de mais idiossincrasias desses dois nomes, conversou também com dois historiadores renomados, Tiago Zancope, paulista, e Cristian Junior, mineiro como JK. Zancope lembra-nos que JK tinha um olhar para o futuro.
“Kubitschek enquanto governador investiu em estradas porque Minas era mal conectada internamente, mas, ao mesmo tempo, ele também investiu muito na atração de investimento por meio de indústrias para superar a economia agrícola dependente do café, leite e gado”, diz.
Sobre um elo político entre Caiado e JK, Zancope destaca que eles têm essa visão de abrir os estados que governaram rumo ao progresso.
“Talvez, a grande correlação com o Caiado seja justamente nessa parte em que ambos investem em estradas. Com o dinheiro do Fundeinfra, Caiado pode renovar e ampliar a malha rodoviária local e favorecer e reforçar a agroindústria local diminuindo o custo do frete. Hoje, talvez, um dos grandes entraves da expressão genérica chamada de “custo Brasil” seja, justamente, transporte e impostos”, sublinha Zancope.
O historiador Tiago Zancope ainda destaca importantes viagens que os dois políticos fizeram com a incumbência de buscar parcerias de relevo para seus estados.
“Juscelino viajou para EUA e Canadá e viu que a indústria é a base para o desenvolvimento econômico. Caiado, por sua vez, foi pra China. Ambos veem a mesma coisa, a superação da economia agrícola é feita pela articulação com a indústria fazendo com essa matéria prima seja beneficiada localmente, agregando valor para a mesma. Com isso, você consegue produzir localmente e vender internacionalmente”, diz Zancope.
Já para o também historiador Cristian Junior, ambos têm suas diferenças ideológicas e outras coisas mais, mas algo os aproxima, a saber, a democracia.
“Caiado e JK são políticos democratas que acreditam, se a gente pudesse estabelecer alguma semelhança. São políticos que acreditam no funcionamento do Estado. Caiado, por exemplo, ele não é da perspectiva da ruptura institucional como é um Bolsonaro, por exemplo. Então isso talvez pode ser uma possível semelhança, no sentido de que são políticos de dentro da ordem. Tem as diferenças ideológicas com os candidatos ali, mas veja, o Ronaldo Caiado já foi candidato à presidência do Brasil outras vezes, né? Perdeu e não falou de golpe, e não falou de fraude, nem nada disso. Na época da pandemia, ele também mostrou a credibilidade que ele dá ao funcionamento do Estado, à democracia, à Constituição, às leis e tudo o mais. Então, acho que essa poderia ser uma possível semelhança”, diz Cristian.
Ronaldo Caiado foi o primeiro pré-candidato à presidência da República a lançar-se no jogo de 2026. Único médico entre os governadores atuais, ele pode ser também o ‘primeiro’ médico da história do país a assumir o Palácio do Planalto, mas vale lembrar que a história já nos contou como foi para JK, agora o futuro pode nos contar a história de Caiado presidente.
