Em artigo, Andressa Mendonça, ex-esposa do secretário Wilder, pede ajuda para seu filho
Wilder de Morais: pobre menino rico
Andressa Mendonça
Esta história é sobre a minha vida, mas não é uma história somente minha.
Afinal este relato é, também, o de milhares de mulheres que veem seus filhos serem abandonados pelo pai.
Tornei-me uma pessoa pública, de interesse de parte da imprensa, por circunstâncias que independeram da minha vontade. Isto trouxe, por um tempo, holofotes sobre a minha vida pessoal, meu casamento, meus filhos. Recentemente, um vídeo que circula na internet me colocou novamente em uma evidência que não pedi.
Fui casada por quase oito anos com Wilder de Morais, que se tornou conhecido quando foi senador. Hoje é Secretário de Estado em Goiás.
Esta união de duas pessoas adultas cumpriu seu ciclo, e teve como fruto mais marcante nossos dois filhos.
E é por eles que, agora, escrevo.
Em uma situação normal seria irrelevante, dada a obviedade, destacar a importância que os filhos têm na vida dos pais. A capacidade de transformação que eles têm em nossas vidas e a responsabilidade sentimental que assumimos na formação de cada um deles.
Desde a mais tenra idade até a vida adulta, os filhos guardam nos pais uma fonte límpida de exemplo, proteção, cuidado, amparo. Um pai e uma mãe são o porto seguro de cada um, um elo tão forte que até quando nos tornamos mães ainda temos em nossos pais este vínculo, que se torna sempre renovado.
No entanto, é preciso dizer tudo isto, uma vez que Wilder de Morais abandonou seus próprios filhos à própria sorte.
O abandono parental é um traço recorrente nas relações de ex-casais muito ligado ao desamparo financeiro, ao desalento econômico que historicamente assola nosso país.
O que acontece é que, a necessidade premente de todas nós de termos um compromisso financeiro com o ex-parceiro para prover o sustento dos nossos filhos, faz sombra sobre outro tipo de abandono: o distanciamento sentimental.
Arrisco dizer que este é ainda mais grave.
A decisão pessoal de Wilder de Morais em não participar da vida dos filhos em crescimento, de conviver com seus dilemas, suas evoluções, suas conquistas é uma das opções mais mesquinhas que um indivíduo pode fazer, pois torna-o comezinho, menor.
Um pai que renuncia ao amor dos filhos está morto por dentro.
Tenho dois filhos do casamento com Wilder e o privilégio de ter condições de prover sustento a eles. Igualmente tenho a sorte de ter uma nova família com um marido que provê o que é além do necessário, com conforto financeiro e emocional a todos nós. Mas, o que está em discussão aqui não é contado com as cifras e a quantidade de zeros depois dos números que Wilder de Morais tanto ama.
Abraço não tem cifrão, o amor não está na bolsa de valores, respeito não é construído com ferro, tijolo e concreto armado.
Diante da brevidade da vida, o que está na mesa é o amor paternal. O amor compartilhado por pais e filhos não pode ser adquirido à vista no cartão, com um vistoso cheque ou exposto numa garagem como um prêmio. Talvez por isto mesmo, Wilder tenha renunciado um bem que não pode ser precificado em Real, Dólar ou Euro.
É triste ver homens se julgarem bem-sucedidos pelas conquistas amorosas mediante aportes financeiros ou pela montanha de notas e moedas que conseguem amealhar em suas trajetórias profissionais e suas carreiras empreendedoras.
Não ter tempo para os filhos é um desperdício de tempo.
À época deste vídeo que circula, enfrentava problemas de saúde de ordem emocional com um dos nossos filhos e busquei ajuda, fiz contato. Busquei o compartilhamento da situação. Não precisava de dinheiro, de um cheque ou qualquer outro tipo de ajuda pecuniária. Eu mesmo não precisava nem de um aceno ou cumprimento.
Precisava de um pai para meu filho. Ele, por sua vez, na sua adolescência, precisava de um olhar, um abraço, um toque, uma palavra. Precisava do reconfortante silêncio que somente um pai é capaz de prover quando na presença de seu filho.
Busquei e não encontrei. Pior ainda: busquei e insisti, com o ímpeto que só uma mãe em defesa dos filhos pode ter. Como resultado: fui ameaçada, humilhada e impedida de levar meu filho à presença do pai que, diante do que classificou uma tentativa minha de “trazer problemas para a minha vida” usou do poder político que goza no presente no Estado de Goiás para acionar o comandante da Polícia Militar.
Meu filho e eu fomos retirados da porta da casa do pai pela força policial. O uso estatal da força serviu para que um pai enxotasse seu filho e uma mãe. “Não me venha trazer problemas”, repetia.
O “problema” que eu levava, inclusive, estava à sua frente, ouvindo o que o pai dizia sobre ele mesmo.
Saí arrasada por presumir os sentimentos de rejeição que meu filho sentia. Neste dia, prometi abraçá-lo o dobro de vezes que puder. De ouvi-lo o triplo de vezes que puder. De estar com ele para tudo, sendo mãe, sendo pai, fazendo com que ele se sinta envolto num ambiente de aceitação, de amor, de amparo.
Superar dificuldades e ocupar ausências e omissões é um dos superpoderes que toda mulher adquire ao se tornar mãe.
Aquela atitude me marcou, mas não me surpreendeu. Há pouco tempo tive de ser testemunha de uma outra mãe. Não por acaso, esta mulher era mãe de uma filha de Wilder de Morais. Ela precisou da mediação jurídica para obter o óbvio: uma pensão justa e proporcional à condição de vida do pai para criar sua filha.
Isto mostra que os problemas deste homem, empresário de sucesso cuja vaidade o empurrou para a política, que hoje está enfurnado na estrutura pública de um Governo, não são comigo, e sim em sua dificuldade em respeitar mulheres.
Seu pior martírio, no entanto, é ser incapaz de se conectar com o amor paternal, e de ser capaz de amar e deixar-se ser amado por seus filhos.
Eu vou seguir em frente. Como na canção de Marcos Valle, imortalizada pelo cancioneiro popular brasileiro, “a mão que toca o violão, se preciso, faz a guerra”. Seguirei sendo “pãe” e lutando, assim como fazem outras mulheres, para encontrar caminhos e soluções perante o abandono de todo o tipo de pais que relutam em sê-los.
De pais que veem nos filhos um “problema”, que veem a responsabilidade e o prazer de conviver com suas crias como um fardo a ser evitado.
Quando o amor é um problema, tudo em volta está apodrecido e triste.
Quem vê o mundo de forma simplória, de cima pra baixo, pela perspectiva das alturas de estar eternamente sentado uma montanha de dinheiro realmente não precisa de problemas: sua vida já é uma anomalia que irá consumi-lo de dentro pra fora.
Aos homens, que já são pais ou que ainda serão, um conselho: vivam o prazer que é a paternidade. Sintam a transformação de ver a sua própria existência ser ressignificada diante de um sentimento maior que a própria vida.
Assim, poderão ver o quanto este amor é forte a ponto de formar um ser humano, desde a sua forma mais dependente e frágil, até tornar-se um indivíduo, um cidadão, um homem ou uma mulher de fibra, de garra, de força.
Porque a luz que brilha de um ser humano iluminado nada mais é que o amor dos pais irradiado na convivência de uma vida inteira.